sexta-feira, 5 de março de 2010

O último post

Olá amigos e viajantes,

Esse é o último post deste blog, O mundo em 365 dias. Uma vez que completamos a viagem, o que resta é história -- muita história, diga-se! E muitas fotos também. Ao longo de 2008 e 2009, viajamos por um total de 13 meses, chegando até a China depois de passar por 33 países e nada menos do que 131 cidades em quatro continentes. Todos os países e cidades estão listados na coluna lateral, com links para páginas do Wikipedia. Foram mais de 35 mil fotos, algumas selecionadas e apresentadas em nosso Álbum. E muitos links com sugestões de passeios, guias de viagem, leituras, transporte, hospedagem etc. E mais: muitos post selecionados em Reportagens e algumas dicas para mochileiros em 365 Idéias.

Esperamos que vocês aproveitem esse blog como uma fonte de informações ou puro entretenimento. Se você busca ajuda, dicas ou algum tipo de orientação, não hesite em nos escrever. Esperamos que gostem da nossa "viagem"! Um grande abraço,

Guther e Renata

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A Amazônia é nossa


As opções de barcos na rota da tríplice fronteira até Manaus são poucas. Mas não tinhamos do que reclamar, nosso barco era bem cuidado e as refeições servidas sempre frescas e gostosas.


Não sei se isso acontece com todos que viajam pelo mundo, mas eu voltei amando ainda mais o nosso Brasil. Não ignoro nossos profundos problemas sociais, mas me empolgo ao sonhar com o futuro da nossa nação. Acredito que nosso país um dia chega lá, não graças aos nossos senado federal e câmara de deputados vazios, mas ao esforço do nosso povo. Otimista demais? Que me condene aquele que viaja pelo Brasil e não se maravilha com a beleza da nossa terra e a simpatia do nosso povo.

Acho que esse sentimento ficou ainda mais forte depois de viajar por três dias pelo Rio Amazonas dentro de um barco até Manaus. Um caminho que começou na tríplice fronteira com o Peru e a Colômbia. Uma experiência pessoal marcante, mesmo depois de viajar por mais de um ano e ter conhecido o Rio Nilo, que sempre competiu com o Rio Amazonas na posição de maior do mundo. A discussão a respeito de quem é o rei dos rios continua mesmo depois de imagens de satélite feitas dos dois – a dúvida é sobre onde realmente nasce cada um deles. Depois de conhecer ambos, o que posso dizer é que se o Rio Nilo é o mais longo, em quantidade de água não parece chegar nem perto da imensidão do Rio Amazonas. Durante alguns momentos da viagem de barco no Brasil era impossível ver uma das margens do rio, tamanha a distância entre uma e outra. Além disso, para uma pessoa acostumada com as grandes cidades, testemunhar o dia-a-dia na beira do Amazonas é conhecer um outro modo de encarar a vida.


Somente com a ajuda de locais era possível ver animais. A enchente que tomou o Rio Amazonas e suas margens espantou a vida selvagem para locais secos e afastados.


Os contrastes
A beleza do rio Amazonas é impressionante, mas isso não deixa a vida do ribeirinho (morador do interior do Amazonas) mais fácil. As distâncias são imensas e o preço das passagens de barco, único meio de transporte disponível, são altas para uma população que praticamente vive da agricultura de subsistência. Além disso, mesmo que um morador de uma cidade ribeirinha tenha posses para pagar as passagens, depende totalmente da baixa frequência de barcos que sobem ou descem de Manaus, a capital. Por lá tudo é transportado via fluvial: comida, carros, tratores, suprimentos em geral e até os estudantes das comunidades. Aliás, um espetáculo a parte é ver a agilidade das crianças com seus barquinhos a remo cortando a imensidão dessas águas. Fiquei imaginando que diferente da primeira Caloi, aqui as crianças sonham com seu primeiro barquinho.

O tráfico de drogas também é uma realidade dura da região. A tríplice fronteira, pouco vigiada pelos paises vizinhos e difícil de controlar por sua extensão, se torna um porta escancarada para a travessia de drogas. Não foi a toa que nosso barco foi parado duas vezes, primeiro pela lancha da Polícia Federal e depois pela Polícia Civil. Todos passageiros foram obrigados a abrir sua bagagem e os tripulantes mostrarem cada parte do barco, esse processo todo levou cerca de 3 horas cada. Reclamar do quê? Pelo menos soube que nossa polícia está trabalhando.


Para se conhecer os igapós é necessário utilizar pequenas embarcações como essa da foto remada pelo nosso guia.


Outro mundo
Mesmo diante de todas essas dificuldades, o povo amazonense é amável e gosta de contar as histórias locais. Nos três dias dentro do barco, em poucos momentos me senti entediada, já que me envolvi em muitas conversas com todo tipo de membro da sociedade. Como um professor, uma dona de casa, um comerciante, uma cozinheira, um estudante, vários cearenses (já que eles formigam na região amazônica desde o Ciclo da Borracha) e até mesmo o dono do barco. Fiz várias perguntas a respeito das frutas locais, tão exóticas para maioria de nós brasileiros, e também sobre como é viver a mercê das águas. Histórias de força e sobrevivência. A cada refeição servida, inclusa no valor do bilhete, descobria nomes e gostos diferentes. O menu não negou a essência do Brasil, simples, fresco e gostoso. E o açaí na tigela todos os cafés da manhã, delícia pura.

Confesso que não vimos muitos animais durante a viagem. Afinal, estávamos apenas usando um transporte público, como um ônibus ou trem na maioria das cidades, e não um pacote turístico que percorre os pequenos igarapés. Além disso, a região há muitos anos não sofria com uma enchente tão forte e os animais estavam refugiados nas poucas áreas secas. Na verdade, o maior fascínio de se viajar pelo Rio Amazonas, nesse percurso também chamado de Rio Solimões, é simplesmente deslizar sobre suas águas barrentas e curtir cada nascer e pôr-do-sol. Um espetáculo silencioso, somente interrompido pelo barulho do motor do barco. E finalizado com o melhor banho de rio que experimentei na minha vida, nas águas escuras e agradáveis do Rio Negro. A Amazônia é nossa!

terça-feira, 12 de maio de 2009

Maldição Inca

Há certos lugares no mundo que exercem um fascínio sobre o viajante, embora tenhamos o sonho impossível de conhecer cada parte desse planeta. No meu caso, Machu Picchu estava no topo da lista. Lembro que quando estávamos voltando à América do Sul, depois de percorrer a Europa, Oriente Médio e Ásia, Guther e eu concordávamos de que se tivéssemos que escolher somente um país latino-americano, seria o Perú. Não havia nenhuma dúvida. Hoje, depois de concretizar o meu sonho, acredito que boa parte do fascínio é resultado de uma influência direta da forte propaganda turística peruana. É uma pena, mas em uma viagem sempre corremos o risco de nos frustrarmos com certos sonhos de consumo. Imagine então depois de conhecermos mais de 30 países. Talvez a culpa disso tudo também seja a grande expectativa que alimentamos. Afinal, investimos tempo e dinheiro em uma viagem e esperamos que o investimento seja digno. Quem nunca foi enganado por uma agência de turismo ou, até mesmo, pela própria imaginação?

A primeira etapa
Minha experiência em Machu Picchu começou na cidade de Cusco, que fica a 3.400 metros do nível do mar. A altitude não nos afetou muito porque já percorríamos grandes alturas desde a fronteira da Argentina com o Chile e depois na Bolívia. No entanto, quem chega de avião de países como o Brasil, principalmente de cidades que estão bem próximas da costa, sofre com o Sorojche, "o mal das alturas", nome dado pelos peruanos ao mal estar que atinge muitos turistas. Os sintomas mais comuns são tontura, náusea e dificuldade de respirar. Acostumados com as grandes altitudes e a mastigar folhas de coca, não tivemos que ficar alguns dias nos aclimatizando, e logo pesquisamos as possibilidades de como chegar a Machu Picchu.


Peruanas com roupas típicas e até acompanhadas de lhamas se oferecem para uma foto em Cusco. Mas não se iluda, a simpatia é remunerada

Diferentemente do que muitas agências dão a entender aos turistas que pesquisam a respeito, não existe apenas um caminho para o local sagrado dos Incas. A verdade é que o governo peruano batizou uma das rotas de oficial e passou a controlar a entrada de turistas por esse caminho. Por dia somente 500 pessoas são autorizadas a entrar, incluindo guias, cozinheiros e carregadores. Por essa razão, turistas fazem reserva da entrada pelo site do governo com muitos meses de antecedência. Não foi o nosso caso. Optamos por uma das várias rotas alternativas até Machu Picchu, que inclui um dia de descida de bicicleta (down hill) e três de caminhada, além de acomodação em pequenas pousadas ao logo do caminho. E o mais importante, não é necessário nenhuma reserva. Essa rota, ou Caminho Inca, é chamada pelas agências de turismo de Jungle Trip, ou em bom português, Caminho da Selva. Mas para quem tem pouco tempo e energia física, há até a possibilidade de conhecer Machu Picchu em um dia, saindo de Cusco de ônibus até a estação de trem que vai a cidade de Águas Calientes e de lá pegar um ônibus que sobe ao parque arqueológico. Confortável e rápido.

Sedentos por aventura, optamos pela Jungle Trip e começamos nossa jornada pela manhã dentro de uma van por três horas. Depois do café da manhã, subimos nas bicicletas e começamos a descida que levou cerca de quatro horas. Chegamos a tarde e conhecemos nosso guia, a primeira frustração da aventura. Me dei conta de como um guia com talento e bem treinado faz falta em uma viagem como essa. Ela tem outro gosto quando sentimos que podemos confiar nas informações, principalmente quando passadas com empolgação. Fatores em falta no nosso guia peruano.

Mais caminhada
No dia seguinte começamos a primeira etapa de caminhadas, de cerca de 7 horas diárias, subindo e descendo. Passei a entender porquê uma jornada como essa se torna algo tão pessoal e reflexiva. A falta de ar, causada principalmente pela grande altitude e intensificado pelas íngremes subidas, impede que você converse muito com os companheiros de equipe. Somente nas paradas para descansar, depois de recobrado o fôlego, é que você se permite um luxo desses. Como em um deserto sem água, no Perú parece que é o ar que está em falta. Aliás, água foi algo que não faltou. Fomos presenteados com um belo parque de águas termais no fim do dia, construído em um vale e cercado por belas montanhas na pequena cidade de Santa Tereza.
Quebrados, mas empolgados, calculamos que o segundo dia seria fácil, já que é realizado quase que somente em áreas planas. O que não contávamos era com os trilhos de trem. A questão é que cada trilho é instalado em distâncias diferentes um do outro. Ou seja, enquanto que no dia anterior você sofria com a subida, mas pelo menos tinha a recompensa da paisagem, sobre os trilhos são 7 horas olhando para baixo e calculando onde pisar. O lado positivo disso tudo é que o Caminho Inca possibilita aos peregrinos conhecer a alegria que vem depois de um grande esforço físico. Perceber que você venceu aquela montanha ou o percurso ao lado de toda a equipe traz uma satisfação interior. Você diz para si mesmo: venci mais um dia.

Graças a forte propaganda turística, centenas de pessoas visitam Machu Picchu todas os dias. Nem mesmo o tempo ruim impede a chegada dos turistas

Quase lá
Finalmente chegamos a Àguas Calientes, última cidade e ponto de parada antes de Machu Picchu. Águas Calientes fica ao pé da montanha onde a cidade perdida dos incas foi construída e possui um parque de águas quentes, o que explica o nome. O parque deixa a desejar, mas ao menos dá um alívio aos pés esfolados pelos três dias de exercício. É no quarto dia, às 4 horas da manhã, que finalmente chega a última etapa do caminho. Turistas de todas as partes do mundo se encontram na escuridão da cidade para subir as centenas de degraus que levam até Machu Picchu. É nesse momento que passei do desprezo a sentimentos bem mais malignos quanto ao nosso guia. Ele sumiu, escada acima, nos deixando no completo escuro. O nosso salvador foi um colega de equipe que trouxe uma lanterna e ajudou cerca de 6 pessoas a visualizar os degraus a beira de um grande barranco. Nunca gostei tanto de um norte-americano, quase cantei “Amazing Grace”.

Depois de mais de uma hora subindo degraus, metade deles iluminados pelos primeiros raios da manhã, chegamos ao portão de entrada de Machu Picchu. Só sabia que era a cidade perdida dos incas pela placa de entrada, porque uma névoa densa cobria toda a montanha. A experiência se tornou ainda mais difícil porque o calor do corpo começava a baixar, junto com a chuva e o vento gelado da montanha que batiam sorrateiros nos centenas de turistas mal agasalhados. Por quase quatro frias horas esperamos a névoa se dissipar. E nada do sol. Molhados e frustrados, voltamos a entrada do parque arqueológico para comer e tomar algo quente. Neste momento, os ônibus de excursão de um dia começavam a chegar. Que inveja senti daqueles turistas bem agasalhados e secos que chegavam justamente quando o sol mostrava sua cara. A minha pergunta era: por que mesmo levantamos as 4 horas da manhã? Ah sim, Machu Picchu estava nos esperando. Até tinha me esquecido.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Mais um minuto de fama

Nossa viagem ainda está rendendo na mídia. Desta vez foi no Jornal NH, publicação distribuída na região do Vale do Paranhana no Rio Grande do Sul. A reportagem publicada no dia 8 de maio ganhou uma página e algumas fotos para os leitores terem um gostinho da viagem. Além de um destaque para o blog. Esperamos que o artigo se torne um incentivo para que mais brasileiros viagem com mochila nas costas, ou do jeito que der na cabeça. Para nós dois é mais um motivo para continuar com o projeto de um livro sobre "O mundo em 365 dias".

terça-feira, 5 de maio de 2009

Viajando na América

Olha a concorrência crescendo.. O blog do Wladimir Pinheiros, vulgo Wlad, tá arrebentando! Muito ilustrado e divertido! Recomendo: http://www.portalibahia.com.br/360/america/.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

O fim que não é fim...

Depois de quase 13 meses na estrada, nossa viagem chegou ao fim. Finalmente de volta a São Paulo, a nossa rotina está limitada a rever amigos e procurar uma casa ou apê. A viagem, no entanto, não acaba aqui. Nos próximos dias devemos atualizar as fotos dos destinos na América Latina, além de abastecer o site com novos textos. Mas não pára por aí! Estamos estudando a produção de um livro sobre a viagem que, dando certo, deve sair no fim do ano! Desejem-nos boa sorte!

sexta-feira, 20 de março de 2009

Paraíso no meio do deserto

Eles não possuem contato com o mar, não são famosos pelas mulheres bonitas e nem dispõem da hospitalidade brasileira. Mas estão dando um baile no Brasil quando o assunto é desenvolvimento de sua estrutura turística. Estou falando da Bolívia, um país com fortes raízes indígenas, mesmo depois de ações terríveis dos espanhóis na sua colonização. A Bolívia é uma surpresa indescritível, até mesmo para aqueles que gostavam das aulas de Geografia e sabiam que o Salar do Uyuni é o maior do mundo, que La Paz é a capital mais alta, assim como o Lago Titicaca é o lago navegável de maior altitude. Incrível? Sim, a Bolívia é incrível e os nativos estão aprendendo rapidamente como explorar essas belezas turisticamente.

Começamos nossa jornada até o Salar do Uyuni na cidade de São Pedro de Atacama, no Chile, onde se encontra o deserto do Atacama, o mais seco do mundo. Consultei minha professora de Geografia que lembrou (eu devia estar dormindo nessa aula) que o deserto chileno registrou mais de 400 anos sem chuva em um certo ponto da sua história. Esse deserto, que chegou a pertencer a Bolivia até a Guerra do Pacífico, no fim do século XIX, guarda doces surpresas. É possível passar uma semana na cidadezinha realizando passeios por geisers, lagoas coloridas e salares. Isso porque a cidade chilena, com cerca de 5 mil habitantes, conta com dezenas de prontas a levar grupos de turistas a qualquer um desses pontos -- além de restaurantes super transados com chefes de cozinha que surpreendem com as opções do menu. Experimente o salmão acompanhado de um bom vinho chileno. A comida é de primeira, mesmo em uma cidade que sofre com escassez de água e energia elétrica (os pequenos hotéis têm água quente apenas 12 horas por dia) e está a 100 km da cidade de Calama, a maior cidade da região no norte do Chile, no meio de puro deserto.

É na cidade de São Pedro de Atacama que você também encontra várias opções de empresas bolivianas que fazem o caminho de Atacama até Uyuni, por preços muitos parecidos. Escolhemos uma das várias empresas que fazem o trajeto de três dias, embora a distância nem seja tão grande -- cerca de 450 quilômetros. O caminho reserva boas surpresas e muitas paradas para fotos. A aventura começa pela manhã num micro-ônibus até a fronteira com a Bolívia, uma pequena viagem de 40 minutos. Depois de um café da manhã e chá de coca servidos no meio do deserto, subimos em um carro 4X4 e logo no início da nossa jornada avistamos o vulcão Licancabur, um símbolo da região. A seguir conhecemos a Lagoa Verde que graças aos organismos que vivem em suas águas muda de cor de acordo com o vento que sopra no vale. É só sentar em uma pedra e torcer para que Pachamama, a Mãe Natureza, sopre a nosso favor. Um espetáculo natural.

Areia gelada
A idéia que nós, brasileiros, temos de deserto é de que se trata de um local com temperaturas escaldantes. Não na Bolívia, graças a altitude média de cerca de 4 mil metros acima no nível do mar. Lá a única coisa que é capaz de fazer a temperatura dos congelados turistas subir são as termas espalhadas pelo deserto. Dizem que suas águas possuem qualidades que fazem a pele ter nova vida. Não sei se a informação bate, mas foi bom tomar um banho quente antes de ficarmos no refúgio gelado no meio do deserto que não possui nem mesmo chuveiros, muito menos água quente. A essa altura da viagem, a altitude começou a incomodar. Foi preciso mastigar muitas folhas de coca e tomar seu chá para aguentar a pressão de mais de 5 mil metros de altitude. Entretanto, como vinhamos de um processo lento de subida desde Mendoza, na Argentina, pelos Andes até Santiago do Chile, nossa climatização não foi tão difícil como a de turistas que chegaram ao país de avião.

No dia seguinte fomos surpreendidos pela visão da Lagoa Colorada, tomada de centenas de flamingos raros. Até então achava que esses pássaros combinavam somente com cenas tropicais -- ignorância minha. Mas testemunhamos os pobres magrinhos quebrando o gelo que cobria a Lagoa Colorada para comer os microorganismos que vivem na água. Lá fomos nós a bordo do Jeep e ouvindo histórias do nosso tímido guia e motorista boliviano, Omar. São nessas horas que se descobre o poder de compreender a língua local (e nós brasileiros aprendemos logo a educar nosso ouvido para o Espanhol). Nosso guia deu seu primeiro testemunho do carinho que sente pelo presidente Evo Moralez, o primeiro indígena a alcançar esse cargo. Segundo Omar, Moralez foi seu padrinho de formatura antes da carreira política e realizou mudanças profundas na Bolívia como presidente. Nosso guia foi a primeira prova de como a Bolívia ama seu presidente. Mas nosso guia não estava cego em relação a má influência de Hugo Chavez, presidente da Venezuela, sobre seu país. Pelos menos para alguns locais, a paixão pelo presidente não é cega.

O papo estava bom, mas ainda havia muito o que ver. No caminho conhecemos a Floresta de Pedra, formações rochosas que se parecem muito com plantas. Mais uma parada para as fotos. E mais lagoas pela frente: Hedionda, Cañapa e Charcota. Ao longe avistamos um vulcão ainda em atividade, o Ollage. Ponto de pouco interesse para quem não tem a oportunidade, como nós, de realizarmos uma caminhada até a boca do vulcão. Era preciso mais uma parada e dormimos em um dos hotéis mais incríveis de nossa viagem, o Hotel de Sal de San Juan. Com a grande oferta de sal da região, afinal, o Salar de Uyuni é o maior do mundo (com 12 mil km2), o hotel é totalmente construído de branco: paredes, mesas, cadeiras e até as camas. E, finalmente, havia um chuveiro quente, porque ninguém é de ferro (e muito menos feito de sal).

Grande final
O último dia da viagem chegou e também a parte mais incrível do trajeto: o Salar de Uyuni. Nosso guia nos avisou que nos dias anteriores havia chovido muito, por isso as montanhas estavam cobertas de neve, água da chuva congelado pelo forte frio. O Salar também deveria estar coberto de água o que poderia dificultar nosso trajeto ou tornar o espetáculo ainda mais lindo. Tivemos sorte. O Salar possuía apenas uma camada fina de água sobre uma crosta que pode chegar até 10 metros de puro sal. A superfície se torna como um imenso espelho que reflete as nuvens do céu e as montanhas de areia que circulam o Salar. Era como caminhar na lua. Não tenho dúvida de que o Salar de Uyuni é um dos lugares mais lindos e inacreditáveis que visitamos nesses 12 meses de viagem. Tão perto do Brasil, mas muitas vezes longe dos planos de nossos turistas brasileiros. A Bolívia te espera.

domingo, 8 de março de 2009

Buenos Aires continua linda. Mas diferente!

O orgulho portenho continua lá, intacto. Entra crise, sai crise mas os argentinos não perdem a pose. Antes de embarcarmos nessa viagem rumo ao coração de nossos maiores adiversários futebolístico na história, foi inevitável ouvir muitas histórias de gente que passou por lá em diferentes épocas de Buenos Aires. Da ascenção do peronismo ao comando de Maradona na seleção argentina, muitas coisas mudaram na superfície da cidade que foi a maior entre todas do continente. A Buenos Aires de hoje, segundo relatos que ouvi, está mais suja e descuidada ou, ainda, menos romântica. De fato, está difícil encontrar uma apresentação de tango sem fugir do circuito comercial. O mais próximo disso que conseguimos encontrar foi uma apresentação de um quarteto de músicos e uma dupla de dançarinos no tradicional Café Tortoni. Para mim, parece que Buenos Aires é uma cidade que se mantém conservadora de velhos costumes enquanto é refém da modernidade e do progresso. Essa atmosfera saudosista certamente é o vírus que infectou meus interlocutores. Buenos Aires vive da melancolia própria e também da melancolia alheia, e seu estado de conservação mais precário se desenvolve como uma obra do fatalismo romântico dos portenhos. A inflação consumiu um país que hoje vive além das posses e patina sobre a imagem de um passado glorioso. Uma visita ao bairro La Boca pode ser algo bastante entediante e irritante graças ao que fizeram da sua paisagem, que perdeu o semblante original e característico para dar lugar a um cenário de peça teatral com pinturas retocadas e varais de roupas falsos, artificiais. Os preços nas alturas transformaram um dos bairros mais antigos e pobres da cidade numa experiência quase exclusiva para turistas cheios da plata. Até o idioma por lá mudou: os ambulantes por lá acreditam ser poliglotas.

Tango, futebol, carne vermelha: Buenos Aires é uma cidade para testar todos os nossos sentidos e emoções.


Mas Buenos Aires é assim, ou não? Já na cidade da Casa Rosada, um outro interlocutor soltou uma jóia quando conversávamos sobre as diferenças entre brasileiros e argentinos: eles são otimistas bem informados. Enquanto nós fazemos samba, eles fazem tango; enquanto nós jogamos "futebol arte", eles jogam "futebol guerra"; enquanto fazemos piadas de nossos heróis, eles idolatram os seus. Deitado sobre berço esplendido na Recoleta, bairro tradicional de endinheirados e ex-endinherados portenhos, está o cemitério que é a jóia da -- como eles sempre gostam de chamar -- nação argentina. Entre seus corredores de mausoléus, um mais lindo que o outro, consta uma lista de personalidades históricas da ex-colônia espanhola. Sempre fui um grande fã de cemitérios mais pelo seu aspecto visual que pela reverência das almas. Já conheci um número considerável de tumbas para avalizar minha opinião de que o Cemitério da Recoleta jaz como uma obra-prima no mundo dos mortos-vivos.

Um fim de semana longo em Buenos Aires está longe de ser um tempo satisfatório para percorrer as várias facetas de uma cidade tão cheia de personalidade e enquadramentos. Os italianos legaram à capital argentina uma vocação indiscutível para a arte e para o bom gosto. Por isso decidimos estender a nossa estadia para algo muito próximo de uma semana completa, com direito a momentos de alta inatividade turística. A dedicação ao ócio não pode ser considerada com culpa, mas pelo contrário como uma oportunidade de conhecer dimensões mais abstratas de uma cidade que abriga uma feira dominical como a do bairro de San Telmo. Arte e antiguidades cobrem ruas e calçadas, estas já muito bem populadas de galerias e restaurantes da moda. Artistas modernos, artistas comerciais e artistas à moda antiga igualmente populam as veias desse universo paralelo da cidade. Ao contrário de La Boca, San Telmo envelheceu com mais dignidade e personalidade. A mescla do excesso de turistas com o excesso de artistas realiza o encontro da arte com o público. Igualmente imponente, a Igreja de San Telmo, dedicada ao santo que dá nome ao bairro, reluz como um exemplar impecável de arquitetura colonial.

Para a vida noturna, no entanto, nenhum dos típicos bairros de Buenos Aires se comparará a Palermo. Em fins de semana, durante o dia bares e restaurantes dão lugar a uma feira dedicada à moda produzida por estilistas locais, com preços muito atraentes diretamente do fornecedor. Porém quando o sol se põe -- ou melhor, bem depois disso, já que os argentino fazem tudo muito tarde e até muito tarde -- Palermo vira um fervo, repleto de opções de lazer noturno. Comer em Buenos Aires é uma coisa que tem tudo a ver com a noite. Muito embora comer também tenha tudo a ver com o estilo de vida dos portenhos -- em todas as refeições do dia. A abundância e qualidade dos produtos lácteos tem algo de extraordinário. É na pecuária, entretanto, que os argentinos se revelam requintados carniceros. De todos os tipos, de todas as variedades e de todos os preços... assim eles construiram uma nação de devoradores de carne. Por fim, vinhos mendocinos e até portenhos completam a mesa, sempre com as proporções generosas de seus pratos. Não é a toa que brasileiros e estrangeiros em geral continuam a povoar as ruas da ex-Paris da América Latina. Não apenas o orgulho continua intacto, mas o charme também permanece ao alcance de bons observadores.

Leia também:
Santa Evita

terça-feira, 3 de março de 2009

Turismo no Brasil pode ser uma m...

Ontem um grande amigo suéco, o Martin, deixou uma mensagem no meu Facebook sobre o assassinato de um amigo de sua família enquanto fazia turismo no Brasil. Ele me perguntava se o Brasil era mesmo uma "cidade de Deus". Logo que recebi o post fiz uma busca na web para ver se encontrava mais notícias. Para minha profunda decepção não apenas encontrei a notícia sobre o assassinato do suéco Gert Bjorn Skyitte Sandgren, como uma lista interminável de crimes contra turistas estrangeiros, vítimas da ação criminal no nosso país. O fato é que isso ocorre desde sempre e parece que essa situação não está nem perto de ser resolvida. Durante essa viagem fizemos muitos amigos estrangeiros. É incrível como a maioria deles tem o Brasil como sonho de consumo no que diz respeito a turismo, uma indústria muito mal explorada em nosso país, especialmente se comparamos com países com muito menos recursos naturais e financeiros. Outra vergonha! Nós estamos pensando em redigir uma cartilha de sobrevivência no Brasil para turístas estrangeiros -- certamente já deve haver alguma -- porque vai entrar governo, vai sair governo e a única garantia que temos é que vai levar muito tempo pra limpar essa merda!

Hoje estava revendo o espisódio em que os Simpsons visitam o Brasil (clique aqui para assistir na web se ainda estiver disponível). Lembro-me da polêmica que foi criada pelo governo brasileiro, que quase processou a Fox pelo "modo como o país foi retratado". De fato a série exagera, como em tudo o que fazem, coisas que nenhum brasileiro gosta de ver ou ouvir sobre seu país, mas não deixa de jogar na nossa cara coisas que precisam mudar e, pior que isso, a imagem que muitos estrangeiros têm a respeito do Brasil.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Santa Evita

A Argentina vive de ídolos. Afirmam que José de San Martin, general e libertador da Argentina e Chile das mãos espanholas, é um santo (com direito a maosoléu na Igreja Metropolitana de Buenos Aires). Já o jogador e agora técnico do time nacional, Diego Armando Maradona, é deus e Evita Perón, claro, uma santa. As regras que fazem de um cidadão normal um ser fenomenal para os argentinos pode ser algo impossível de entender. Até porque Maradona possui, além de sua genialidade para o futebol, poucas qualidades divinas. Já Evita é uma das várias e grandes polêmicas locais. Para alguns, uma populista infernal e para outros uma protetora das crianças, velhos, mulheres e descamisados.

Diante de tanta polêmica, a própria Evita escreveu uma autobiografia entitulada "A razão de minha vida", publicada em 1951 e que em quatro dias vendeu 145 mil exemplares. O livro conta como Eva Duarte (seu nome original), filha ilegítima de um político, saiu das camadas mais humildes da sociedade argentina e aos 15 anos mudou-se com a mãe para Buenos Aires. Foi na capital que Evita começou a carreira como atriz de rádio e cinema. A cidade também foi cenário para o encontro com o militar Juan Domingo Perón e, algum tempo depois, da famosa revolta popular de 17 de outubro de 1945, quando Perón estava preso e foi libertado das grades através da pressão popular. Nesse momento, a estrela de Eva começou a brilhar na Praça de Maio e na cena que marcou o mundo inteiro discursando para milhares de pessoas da sacada da Casa Rosada. Imagem repetida diversas vezes pelo casal e copiada por muitos que seguem os passos do populismo. Faltava pouco para que Eva ganhasse o apelido de Evita pelas ruas e se tornasse a primeira dama a participar das fotos oficiais de um presidente da Argentina.

Seu poder político
Inspirado na autobiografia de Evita, o museu batizado com seu nome na capital portenha foi planejado para ajudar no intrincado processo de decifrar a personalidade de Evita Perón e do Movimento Peronista. A mostra começa com uma das inúmeras frases tipicamente populistas da "santa" registrada em seu livro: "Alcancei na vida tudo o que uma mulher pode desejar, sou amada pelos pobres e odiada pelas oligarquias". Já a publicação foi leitura obrigatória nas escolas da época, muitas delas contruídas pelo presidente Perón e que foram batizadas com o nome do casal, uma prova de que há muito tempo na Argentina o tamanho do ego é um elemento fundamental para o sucesso. Juntos, além de dezenas de escolas, construíram asilos, projetos de turismo infantil e casas de profissionalização. Entretanto, a maior ênfase do trabalho de Evita era com as mulheres. A primeira dama da Argentina, junto com o marido eleito em 1946, foi a grande defensora de uma lei que permitiu a elas o direito de voto. A conquista, aprovada pelo Congresso em 1947, foi a consagração de Eva Perón. Já a criação do Partido Peronista Feminino foi a segunda parte de um plano para as eleições seguintes. A estratégia era de que houvesse o maior número possível de mulheres com poder de decidir a política em 1951, garantindo assim a permanência do marido no poder. Com o apoio das argentinas, Perón foi reeleito com mais de um milhão de votos de diferença do segundo colocado. A ganância política de Evita só não foi mais longe porque a primeira dama morreu no ano seguinte, com apenas 33 anos de idade, vítima de um câncer fulminante no útero.

O mistério que durou 14 anos
Como toda santa que se preze, sua história merecia mais ingredientes angustiantes e melodramáticos. O corpo de Evita atravessou as ruas de Buenos Aires diante das lágrimas de dois milhões de portenhos que ficaram em luto por um mês. No entanto, o que aconteceu com o corpo embalsamado da primeira-dama permaneceu um mistério por 14 anos. Os planos seriam de colocar o corpo da diva no lugar de um monumento que estava quase concluído na capital. No entanto, quando a Revolução Libertadora retirou o enfraquecido presidente Perón do poder em 1955, o cadáver de Evita foi sequestrado e desapareceu. Muitas teorias foram criadas a partir do sumiço. O que se descobriu muitos anos depois foi que Evita Perón havia sido enterrada na Itália sob o falso nome de Maria Maggi de Magistris e somente em 1976 foi devolvida ao povo argentino. Hoje, Evita Perón descansa em paz no cemitério da Recoleta, numa tumba que não faz jus a sua grandiloquência, mas sempre com flores, junto com outros membros da família Duarte. Nada restou do luxo que ela apresentava em seus trajes e de seus discursos marcantes na Casa Rosada. Na política e na sociedade tampouco. Os ídolos da Argentina parecem ter o fim de qualquer cidadão comum: do pó voltam ao pó.

Leia também:
Buenos Aires continua linda. Mas diferente!

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Uruguai: um pequeno grande país

Esquecido no cenário internacional graças ao gigantismo de seus vizinhos Brasil e Argentina, a antiga Província Cisplatina leva brasileiros e argentinos "na flauta", com uma diplomacia impecável e histórica. Território brasileiro de 1822 a 1828, quando conquistou sua independência do então império, ainda hoje os uruguaios mantêm uma relação extremamente amistosa com a gente. Sempre cordiais, não é nada raro encontrar uruguaios falando excelente português, muito embora a grande maioria nos entenda com muita facilidade. Apesar de se orgulharem da maior conquista futebolística de sua história nos derrotando na Copa de 1950, esses diplomáticos gaúchos nunca são levianos ou jocosos ao relembrar esse feito. Também não perdem uma oportunidade sequer de se desmancharem em elogios às brasileiras! Se tivesse apenas uma palavra para definir os uruguaios, sem dúvida os descreveria como "bon vivants": sabem desfrutar os prazeres de uma vida sem grandes preocupações ou ambições, o que sem dúvida faz de uma visita ao seu país uma experiência muito agradável. Nesta oportunidade visitamos a bela e pequena capital Montevidéu e a histórica Colônia do Sacramento, deixando para trás Punta del Este, talvez o destino turístico mais freqüente dos brasileiros. Certamente não faltarão oportunidades de retornar!

Montevidéu é uma cidade muito compacta, agradável e segura. Um fim de semana longo é mais do que suficiente para cobrir as principais atrações turísticas ou desfrutar a culinária local: o tradicional "asado", uma saborosa variedade do nosso churrasco. Felizmente, boa carne de vaca e bom vinho são artigos abundantes por lá. Um paraíso para os carnívoros! Logo no dia em que chegamos de uma viagem de cerca de 12 horas Porto Alegre, só tivemos tempo para nos acomodar e logo saímos para aproveitar um lindo dia de sol e céu azul. É muito fácil se guiar pela cidade, então decidimos pegar um ônibus. No mesma parada, dois sujeitos carregando sanfona e violão resolveram tomar o mesmo ônibus lotado! Passaram por nós se expremendo entre as pessoas e, para nossa surpresa, começaram a tocar e a cantar bem no meio do ônibus, em frente a uma das portas de saída. Muitos civilizados, os uruguaios sequer se incomodaram e se viravam sem cerimônia para saltar do lotação quando chegavam aos seus destinos! A nossa adrelina àquela altura estava tão à flor-da-pele que começamos a rir, nos desfazendo do disfarce de habitantes locais. E a música era boa, divertida, pra cima! Claro que tivemos que dar uma contribuição aos artistas.

Saltamos praticamente no último ponto, já na cidade velha, e seguimos para o Mercado do Porto para comer uma bela picanha com salada -- como sempre digo, arroz a gente come em casa! Alimentados e um pouco desnorteados pelo vinho, saímos andando a esmo pelo pitoresco e fotogênico centro de Montevidéu. Sem dúvidas, o Uruguai pode ser um bom ponto de partida para uma viagem pela América do Sul, uma interessante introdução, ao lado da Argentina, à América hispânica. Na capital uruguaia ficamos hospedados com amigos que fizemos em Lisboa. Conhecer gente local sempre potencializa uma viagem, embora não signifique necessariamente economia, já que a gente acaba sempre saindo para comer, beber e socializar. No domingo, com o sol à pino, decidimos visitar uma das deliciosa, mas geladas, praias uruguais. Vários ônibus saem da capital para as praias mais próximas -- uma espécie de balneário desfrurado pelos uruguaios a cerca de 60 quilômetros de Montevidéu.

Seguimos, então, para a bela e pequena cidade histórica de Colônia do Sacramento, a cerca de três horas da capital, onde também é possível tomar um ferry para Buenos Aires. Foco da resistência portuguesa na briga por esse pedaço de chão do novo mundo, a fotogênica cidade preserva muito da história e da arquitetura dessa época e pode ser muito bem explorada em um ou dois dias. Por lá é fundamental experimentar a parrillada, o prato típico da região: uma mistura de carne de vaca, frango, linguiça e morcilha. Evidentemente, regado a vinho tinto local (bom e barato)! Quem, como nós, opta por visitar o Uruguai antes de seguir para a Argentina visitar Colônia é uma boa pedida. A cidade parece seguir num ritmo muito abaixo do resto do planeta, o que certamente não favoreceu os jesuítas em sua resistência contra a coroa espanhola mas que ajudou a preservar um dos sítios históricos dessa região. Equipada com bons albergues e hotéis, Colônia do Sacramento proporciona aos turistas uma viagem num tempo nem tão longínquo e me leva a refletir: já que barramos a gana separatista de Bento Gonçalves, porque não estendemos esse esforço para um pouco mais perto do Rio da Prata? Assim, hoje o Uruguai seria o 28° estado brasileiro e já seríamos hexacampeões do mundo.

Leia também:
Somos todos gaúchos

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Somos todos gaúchos


A rica culinária gaúcha do Uruguai se concentra no Mercado do Porto. A Parrillada é o prato mais tradional e a preferência dos carnívoros.


Muita carne, chimarrão e amor pelas tradições. Me senti em casa nos cinco dias que passamos no Uruguai. A capital do país, Montevidéu, parece um pedacinho de Porto Alegre. A essência do gaúcho paira sobre os uruguaios. Assim como o cheiro de carne dos famosos assados, como no belo Mercado do Porto. Os uruguaios possuem duas paixões que são facilmente encontradas nas calles: o mate e o flerte.

No caso do mate, uruguaios carregam a térmica e a cuia debaixo do braço por todo lugar que andam. Até mesmo no ambiente de trabalho. Uma amiga uruguaia que trabalha em uma empresa norte-americana contou que há uma regra que proíbe que seus funcionários comam ou bebam qualquer coisa durante o horário de trabalho. A regra, é óbvio, não funcionou no Uruguai. Já o flerte é o esporte nacional no país. Basta sentar por alguns minutos nos diversos restaurantes ao ar livre em Montevidéu para perceber. Eles olham todas, todas mesmo. Basta ser mulher para ser admirada pela frente, e é claro, pelos fundos. Pronto, algo mais que temos em comum com os uruguaios: a preferência nacional por aqui também é o bumbum.

Leia também:
Uruguai: um pequeno grande país

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Nossa viagem na TV

Jornalistas que somos, sempre fizemos as perguntas. Nesses últimos dias, no entanto, tivemos que nos acostumar com uma nova fase: nos tornamos entrevistados. Foi assim que a nossa viagem pelo mundo em 365 dias virou notícia no programa Tele Domingo, transmitido pela RBS, a Rede Globo do Rio Grande do Sul. A entrevista foi gravada em Três Coroas, 100 quilômetros de Porto Alegre, cidade onde nasci e por onde paramos por alguns dias para descansar antes de começarmos a nova jornada pela América Latina. Para quem não pode assistir ao vivo no último domingo (como nós, pois estamos em terras uruguaias), dia 15 de fevereiro, segue o link.