domingo, 7 de dezembro de 2008

Vietnã: além de Rambo

Visão do paraíso: a guerra do Vietnã não chegou às partes mais remotas do norte do país e graças a isso a Baía de Halong foi preservada para o deleite da humanidade.

Você pode não acreditar, mas o filme Rambo é um blockbuster no Vietnã. Parece cômico, mas na verdade é trágico. Antes de serem expulsos do país pelos Vietcongs, americanos e aliados deixaram um rastro permanente de destruição. Ironicamente, hoje o Vietnã luta para se recuperar economicamente com as preciosas verdinhas do turismo, numa tentativa desesperada de conciliar comunismo e progresso. Não teria sido muito mais simples chegar a algum tipo de acordo há uns quarenta anos? A lógica pode parecer simples, mas na prática a coisa é bem mais complicada. Os vietnamitas convivem com guerras há muito tempo: primeiro expulsaram os chineses, depois os franceses e, por fim, os americanos na guerra do Vietnã, certamente um dos maiores episódios de atrocidades contra um povo. Ao contrário dos tailandeses, que vivem sorrindo para todo mundo, os vietnamitas encaram a vida de outra maneira. Amigáveis, porém menos tolerantes, eles carregam consigo um orgulho que pode ser, equivocadamente, confundido com arrogância. Para mim é mais uma atitude de não-submissão e independência, uma vez que os vietnamitas são dotados de uma auto-estima exemplar.

Hoi An, conhecida como a terra dos alfaiates, é o centro da produção têxtil do país. Por lá é possível comprar produtos de qualidade assim como os tradicionais "falsificados".

Para se entender bem o curso de nossa viagem pelo país, é preciso entender a mecânica de sua história recente. A guerra do Vietnã se estendeu de 1959 a 1975, quando a cidade de Saigon, no sul, foi tomada pelos Vietcongs vindo de Hanoi, no norte. O centro do país, portanto, foi amplamente devastado como conseqüência dos inúmeros conflitos entre vitenamitas do norte, apoiados pelos soviéticos e demais aliados comunistas, e os vietnamitas do sul, apoiados basicamente por americanos -- que acabaram entrando na guerra -- e franceses, que por décadas massacraram mais esta colônia no sudeste asiático.

Após a vitória dos Vietcongs, as tropas americanas tiveram que deixar Saigon, deixando para trás um rastro de destruição no país. Rebatizada como Ho Chi Min, nome do líder comunista dos Vietcongs, a cidade é um dos principais motores da econômia local ao lado da capital Hanoi.

Após a retirada das tropas americanas em 1975, já amplamente desgastadas perante a opinião pública mundial, Hanoi se tornou a capital da República Socialista do Vietnã, por onde começamos nossa passagem pelo país. O fato é que o norte provavelmente reserva o que há de melhor nessa terra. A Baía de Halong é capaz de produzir na mente uma imagem inesquecível de beleza natural. Por sua vez, efervescência e personalidade recolocaram Hanoi no mapa como uma das cidades mais aluscinantes do sudeste asiático. Dona de uma culinária exótica, pessoas com gosto bizarro por insetos, vermes e cachorros podem satisfazer o paladar pelas ruas da cidade ou, ainda melhor, pelo interior do país. Os sabores do Vietnã, no entanto, não se limitam a essas esquisitices e oferecem uma lista incontável de delícias culinárias e, para a surpresa de muita gente, uma qualidade inegável na arte da confeitaria. Irresistível! O trânsito comprometido por uma quantidade ultrajante de motocicletas torna a travessia de ruas um misto de fé e aventura. Estando por lá lembre-se que será preciso dar o primeiro passo...

De Hanoi muitas pessoas seguem para passeios turísticos na Baía de Halong e, mais ao norte, nos campos de arroz da montanhosa Sapa. Cansados de montanhas, florestas e campos de arroz, saímos em nossa peregrinação rumo ao sul do país, com direito a uma parada na cidade de Hoi An, renomada pela qualidade (e quantidade, claro!) de alfaiates. Lá eles fazem de tudo no que diz respeito a costura. Seja lá o que você deseja -- de ternos e vestidos a sapatos e tênis; copiar ou dar vazão aos seus mais secretos devaneios estilísticos --, eles fazem. E em 24 horas. Impressionante! Por fim, seguimos para Saigon na expectativa de cruzar a fronteira do Camboja e evitar a multa por expirar o prazo de nossos vistos.

Leia também:
Memoriais da dor

1 Comentários:

Blogger Diego Rodrigues disse...

Essa sua viagem tá muito foda véi!! Eu vivo lendo aqui (mas acho que é a primeira vez que comento).

Você é patrocinado por alguém ou decidiu viajar com custos próprios?

7 de dezembro de 2008 às 14:52  

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