segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Índia: uma rota clássica

A Índia foi um dos países mais pobres e mais baratos por onde passamos. Ainda assim, um dos mais compensadores. Honestamente, nossas expectativas eram tão negativas que isso acabou potencializando a nossa experiência. Infelizmente, tivemos apenas vinte dias para viajar pelo país e por isso optamos por fazer uma rota clássica e, portanto, mais turística que incluiu as cidades de Deli (capital), Agra (Taj Mahal), Orchha, Khajuraho (templos do Kama Sutra), Varanasi (rio Ganges) e Calcutá. A nossa sorte foi termos viajado pelo país às vesperas da alta temporada, o que significa uma demanda ainda baixa para um excesso de oferta. A verdade é que a Índia é um destino acima do ordinário e uma vez lá será impossível não ter as estruturas abaladas -- para o bem ou para o mal. Pobreza e miséria se misturam a uma das culturas mais extraordinárias do mundo. Religião, culinária, música, moda, dança, artes, filosofia e uma imensurável paixão por cinema servem ao deleite dos turistas com apetite por aventura.

Nossa jornada começou na capital Deli, para onde toda a Índia converge numa mistura alucinada de cultura e política. De um lado a maioria hindu (predominante no sul) e, do outro, a minoria muçulmana (predominante no norte) vivem atualmente um momento de tensão política. Isso, porém, não afeta o dia-a-dia da cidade mais cosmopolita da Índia. Em apenas 20 dias no país, acompanhamos através do noticiário uma sucessão de atentados à bomba orquestrados pela oposição muçulmana fundamentalista contra o governo hindu liderado pelo primeiro ministro Manmohan Singh, assim como a prisão de suspeitos de terrorismo. A parte disso, a Índia segue a vida lutando para combater os altos índices de pobreza e se estabelecer como um das novas potencias mundiais.

Depois de um compensador fim-de-semana em Deli, e ainda nos adaptando aos cheiros e sabores da Índia, seguimos para Agra (a cerca de 200 km da capital) para ver o Taj Mahal. Optamos por passar duas noites lá para termos a oportunidade de gastar um dia completo na cidade, onde também é possível visitar o imponente Forte de Agra. É importante lembrar que viajar por terra pela Índia é uma tarefa que vai consumir pouco dinheiro, mas muito tempo. O país é grande e bem servido em termos de ferrovias e rodovias, porém os atrasos são uma constante e a dificuldade de encontrar tíquetes na alta temporada pode arruinar quaisquer planos. É preciso acrescentar ainda que descobrir a Índia por terra é um desafio que demanda persistência, coragem e desapego ao conforto. Porém, é uma experiência de vida.

Após cumprir nossa missão mais importante no país visitando o Taj Mahal, seguimos para a cidade de Orchha, uma das mais proeminentes cidades da Índia no século 16. Hoje, a cidade praticamente rural vive uma efevercência turística que reflete o seu poder e riqueza no passado com um diversidade única de palácios e templos. A atmosfera amigável dos habitantes dessa pequena cidade será um momento de alívio e descanso após Deli e Agra. Mais descansados, seguimos para Khajuraho para visitar os templos do Kama Sutra. Além da sacanagem (inúmeras cenas de sexo explícito esculpidas em algumas dezenas templos do sexo espalhados pela cidade), a arquitetura desses prédios se distinguem como uma das mais sofisticadas manifestações de arte em toda a Índia. Khajuraho também é um dos principais centros para a prática de ioga no mundo. Viajantes realmente interessados no assunto certamente devem dedicar mais tempo a cidade graças a abundante oferta de classes de ioga. Cuidado, porém, com os charlatões, mais interessados no equilíbio do corpo do que da mente!

Definitivamente, Orchha e Khajuraho são paradas importantes no caminho para Varanasi, provavelmente o destino religioso mais importante os hindus. Famosa por ser a terra do sagrado rio Ganges, a atmosfera de Varanasi pode ser pesada em vários sentidos. Um incontável número de fiéis segue para lá com o intuito de acompanhar as cerimônias de banho e cremação que se sucedem no imensamente deteriorado rio. Hospedar-se na parte antiga da cidade, onde se concentram o ghats, (ou crematórios, numa tradução bastante pobre), é definitivamente a melhor opção. Entretanto, o excesso de pessoas e vacas que povoam as ruas estreitas dessa área certamente será um desafio até para as pessoas mais flexíveis. Varanasi também é um dos mais importantes centros universitários e educacionais voltados para cultura hindu. Muitos estrangeiros se estabelecem por lá para estudar música, religião, dança, artes, filosofia e cultura. Embora seja uma das cidades mais ricas da Índia, pobresa e miséria são excessivamente visíveis em todas as partes da cidade, especialmente na histórica. Os níveis de criminalidade por lá também são altos até para padrões indianos, portanto ficar alerta pode prevenir muitos inconvenientes. A melhor época para visitar Varanasi é durante os inúmeros festivais que acontecem na cidade ao longo do anos. Se você tiver a sorte de estar por lá durante alguma festividade, aproveite!

Por fim, saímos de Varanasi numa viagem de 20 horas de trem (incluindo atrasos) para Calcutá. Ao lado de Deli, Mumbai e Bombai, Calcutá é um dos grandes centros urbanos do país e pode gerar uma boa economia para viajantes que pretendem seguir para o sudeste asiático, com voôs regulares e significativamente mais baratos. A cidade, por sua vez, é altamente urbanizada e pode ser bem difícil de explorar. Tivemos a sorte de acompanhar o multicolorido festival Puja, uma competição de imagens do deus Durga que acontece anualmente na cidade no início de outubro. A despeito da Madre Teresa, a presença de cristãos na cidade não chega a ser visível. Porém cristãos piedosos podem visitar a ordem fundada pela freira, Missionárias da Caridade, e dedicada a aliviar o sofrimento de pessoas pobres e desvalidas à beira da morte.

Comida, higiene e drogas
A Índia é famosa por oferecer uma das culinárias mais ricas do mundo. A tradição das especiarias, que colocou o país por quase 500 anos sob sucessivos domínios de países europeus, permanece viva e, com o perdão do trocadilho, ardente. Contrariando a lógica cartesiana, comer nas ruas pode ser mais saudável do que em restaurantes, uma vez que os hábitos de higiene estão muito abaixo dos padrões internacionais. Se decidir comer na rua, tenha certeza de que a comida está sendo preparada na hora e com ingredientes frescos, o que acontece na maioria das vezes. Entretanto, a comida apimentada será um desafio maior para estômagos e intestinos do que a higiene em si. A grande maioria dos indianos são vegetarianos, o que proporciona uma comida bem leve e altamente digestiva. Portanto, abondone seus preconceitos e tente experimentar as maravilhas culinárias do país. Para os carnívoros vale avisa que cardápios não-vegetarianos se resumem ao acréscimo de frango (hindus não comem carne de vaca, por óbvias razões) aos pratos originalmente vegetarianos. Em resumo, a culinária será um dos fatores mais ricos numa viagem à Índia.

Um kit básico de higiene que inclua papel higiênico, bactericidas e lenços é fundamental para sobreviver na Índia. Em destinos turísticos, como a rota clássica, esses ítens são encontrados com facilidade. Porém lembre-se de estocá-los na sua mala para viagens a destinos menos turísticos e longos trajetos de ônibus e trem. No que diz respeito a água, NUNCA, JAMAIS arrisque-se a tomar água que não seja engarrafada (mineral ou purificada) e, se for o caso, mantenha uma garrafa para escovar os dentes no quarto do hotel. Mas não seja paranóico, pois há uma grande oferta de água potável no país. O único problema é que não existe um controle extensivo de qualidade dessa água, dificultando a identificação entre a boa e a ruim. Em 2o dias no país, não tivemos qualquer problema de saúde.

Outra coisa importante: drogas na Índia é algo amplamente disponível. Muitos vendedores de roupas, motoristas de tóc-tóc, vendedores de comida, recepcionistas de hotéis etc. conduzem esse tipo de atividade paralelamente, além dos traficantes em tempo integral. E é possível encontrar de tudo, de baseados a ópio. Tome cuidados em relação a esse tipo de oferta, mas se você estiver no clima de embarcar nessa viagem evite ruas pouco habitadas e escuras. Você pode ir de consumidor à vítima num estalar de dedos. A polícia, que normalmente poupa os ricos turístas de embarassos e problemas diplomáticos, está pegando pesado no combate ao tráfico, conforme acompanhamos nos noticiários, e incluindo estrangeiros na lista de alvos de suas diligências. Portanto, fique alerta e lembre-se que a Índia já é uma grande viagem em si própria.

Leia também:
Terra das mil especiarias e deuses... e do Taj Mah...

4 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

amigos, que vontade de conhecer a Índia depois de ler este texto... as impressões de vcs são inspiradoras...
Rê, AMEI teu post sobre o Taj Mahal... quero muito conhecer este lugar um dia.
Amiga tuas fotos do orkut também estão sensacionais.
Acompanho tudo sobre esta viagem.
Gostaria de poder ouvir tuas histórias desta aventura. Devem arrepiar...
bjos para vcs

17 de novembro de 2008 às 00:29  
Anonymous Marco disse...

Há alguma liberdade pra fazer comentários neste blogg? se não for pra agradar o seu autor, certamente não!

30 de maio de 2009 às 16:59  
Blogger Renata Sturm disse...

Caro Marco, estamos abertos a críticas e sugestões. Mas evitamos proselitismo religioso.

30 de maio de 2009 às 17:18  
Anonymous Marco disse...

Quer uma sugestão? Mostre a verdade sobre a Índia, 92% da população de miseráveis, 53% das crianças abusadas sexualmente e na maioria das vezes pelos próprios pais.
Mostrar a parte linda que representa a minoria é um total desrespeito com a maioria esmagadora que tanto sofre. Dê a sua contribuição.
É verdade a Índia tem as suas maravilhas, mas elas não se comparam à miséria que lá existe. A minha sugestão em resumo é essa: seja mais claro!

Obrigado.

30 de maio de 2009 às 19:54  

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