sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Um olhar sobre o Antigo Egito

Templo de Karnak, em Luxor, dedicado ao deus Amun-Ré: uma estrutura que cobre mais de um quilômetro quadrado, resultado de cerca de dois mil anos de construções e acréscimos. Imperdível!

Pirâmides e esfinges não resumem bem o Antigo Egito. O excesso de propaganda pode tornar a experiência um pouco frustrante dependendo do nível de expectativa. Obviamente, uma vez que você coloca os pés no Egito, há lugares que demandam uma visita, nem que seja para dizer que você esteve lá. As pirâmides se enquadram neste caso. Goste ou não, você tem que ir lá! Entretanto, um bom pacote de viagem para o Egito incluirá ao menos as cidades de Lúxor e Assuam, que concentram algumas das mais extraordinárias obras da engenharia egípcia. Ainda nas pirâmides, uma visita ao Solar Boat Museum é obrigatória. Não necessariamente pelo aspecto da grandiosidade dos monumentos do Antigo Egito, mas sim pelo mérito da descoberta arqueológica. O museu (dentro do sítio arqueológico de Giza, onde ficam as três grandes pirâmides/tumbas localizadas no Cairo), comporta um barco descoberto quase intacto na década de 1950. A reconstrução levou mais de quatro décadas e o estado de conservação da madeira (cedro provavelmente importado pelos egípcios da Fenícia, onde atualmente fica o Líbano) dá uma idéia da capacidade tecnológica dos antigos egípcios.

Definitivamente, as pirâmides são um excelente início e uma parada obrigatória na jornada pela descoberta do Antigo Egito. O mistério sobre a construção deste monumento ainda permanece na obscuridade, a despeito dos incontáveis livros sobre o tema. Ainda no Cairo, reserve um dia para uma longa visita ao Museu Egípcio, uma impressionante coletânea dos tesouros. Sarcófagos, tumbas, jóias, móveis, utensílios e uma infinidade de outros objetos, organizados em ordem cronológica, dão uma idéia do passado nos arredores do suntuoso rio Nilo. No entanto, se você não estiver munido de um guia de viagem especialmente voltado ao Antigo Egito ou um tour fornecido por uma agência de viagens, considere a contratação de um guia autorizado antes de entrar no museu. Dezenas deles ficam à porta do museu oferecendo seus serviços, cujo preço é sempre negociável e varia de acordo com o número de pessoas do grupo. Infelizmente, o museu não é bem organizado e a ausência de informação para cada um dos principais objetos da coleção deixa muitas lacunas em aberto. Há disponibilidade de guias falando várias línguas, porém, será difícil encontrar algum falando português. Se o seu inglês, francês ou italiano não estiver em dia, tente o espanhol. Uma vez dentro do museu, não deixe de visitar a sala das múmias. Infelizmente, o ingresso deve ser comprado à parte.

Abu Simbel, complexo arqueológico com dois magníficos templos esculpidos na rocha, é uma imagem para ficar na memória. Próximos da fronteira com o Sudão, os templos foram construídos em XII a.C. pelo faraó Ramsés II.

Uma vez finalizado o tour pelo Cairo, o seguinte destino deve ser o Alto Egito (que contraditóriamente fica ao sul do Nilo). As duas principais cidades nesta região são Lúxor e Aswan. Se possível, comece por Assuam, que fica mais ao sul. Lá será possível visitar o templo de Abu Simbel, uma cansativa viagem de três horas que começa de madrugada, por volta 2h30. Se você estiver viajando por conta própria pelo Egito, fique tranquilo. Praticamente todos os hotéis e albergues oferecem diversos tours por preços razoáveis. Num mesmo dia, é possível visitar Abu Simbel, provavelmente o mais impressionante monumento do Alto Egito, e o templo de Philae, completamente movido para uma ilha a salvo das inundações do Nilo. Após uma visita ao banco leste do Nilo, onde ficam os vilarejos núbios, e tours menores por outras áreas da cidade à sua escolha, há três opções para seguir para Lúxor. A primeira são os trens, que partem diariamente de Assuam a preços módicos. A segunda (e mais cara) é contratar um tour de três dias de navio pelo Nilo, com tudo incluso: alimentação, bebidas e hospedagem numa confortável cabine. A terceira (e mais emocionante e com preços razoáveis) é contratar um tour de dois ou três dias numa feluca (ou barcos à vela), também com tudo incluso (com excessão do conforto). As duas últimas opções são recomendadas para quem tem mais tempo e está interessado em ver mais lugares pelo caminho.

Uma vez em Lúxor, não será necessário mais do que dois dias para ver os principais sítios arqueológicos da região. A cidade, ao contrário de Assuam, é bastante suja e pode ser pouco amistosa, especialmente para mulheres. Lá, evite andar pelas ruas a pé. Casos de agressão ou furto são raríssimos, mas o assédio (nunca físico) é bastante inconveniente. Novamente, hotéis e albergues oferecem toda estrutura para visitar os monumentos da região. Em um dia é possível visitar os templos de Karnak e Lúxor, localizados no centro da cidade. No dia seguinte é possível contratar um tour para visitar o Vale dos Reis e o Vale das Rainhas, assim como alguns monumentos menores. Várias empresas oferecem um tour de balão sobre a cidade, por um preço razoável e com uma estrutura bastante profissional, que inclui confortorto e segurança. Tente barganhar no preço, pois há descontos para grupos. O tour como um todo dura aproximadamente três horas, sendo 50 minutos nos ares. O retorno para o Cairo pode ser feito de trem ou avião, de acordo com seu orçamento ou pacote de viagens.

O Egito para iniciantes
Viajar pelo país, especialmente no interior, pode ser um processo bem desgastante. Além da barreira da língua, cultura e religião podem tornar a sua viagem um desprazer. Por isso, evite o Egito no mês de setembro por conta do Ramadã, o mês sagrado do islamismo. Na realidade, o único problema desta época é a oferta de comida no interior do país, onde a religião tem uma importância muito grande e quase a totalidade das pessoas jejuam durante o dia. No Cairo, achar restaurantes e cafés abertos não será um problema. Se possível, de acordo com sua agenda de viagens, procure evitar também os meses de junho, julho e início de agosto por conta das altas temperaturas. A maioria dos grandes monumentos ficam em lugares desérticos e extremamente secos. Lembre-se que no Egito água (em grandes quantidades) é um item de extrema necessidade.

Cerca de 90% da população do Egito é muçulmana e, por conta disso, no interior a grande maioria das mulheres usa véu. O Cairo, porém, é um caso a parte e embora a utilização do véu seja grande, não chega a ser maciça. A repressão sexual sobre a população de baixa renda gera uma enormidade de distorções sobre a visão dos homens egípcios sobre as mulheres ocidentais. Por conta disso, o assédio sobre as mulheres (mesmo casadas e/ou acompanhadas de namorados e maridos) pode ser bastante inconveniente. Embora seja raríssimo casos de assédio físico, uma boa dica para mulheres é vestir-se modestamente e carregar consigo sempre uma echarpe na bolsa, no intuito de usá-la como véu caso seja necessário. Isso não evitará o assédio por completo, mas tende a amenizá-lo. Também não é recomendado para mulheres dar excessiva atenção para homens em todos os aspectos, seja nas ruas, nas recepções de hotéis e albergues, ou mesmo em lojas de souvenir, pois eles podem tomar isso como uma abertura para investidas mais ousadas de assédio. Portanto, falar apenas o que for estritamente necessário e evitar gentilizas podem poupá-la de situações constrangedoras. Por ser uma sociedade classista, respostas ríspidas podem ser vistas como uma determinação de limites, portanto se for o caso, dispense a sua boa educação e mostre o pior dos seus lados.

Dinheiro também é um assunto importante para quem deseja desembarcar no Egito. O tema é sempre tratado com ambigüidade pelos egípcios e sempre há espaço para barganha. Em tudo, com excessão de lugares em que preços e serviços são tabelados, invariavelmente turistas serão rapidamente identificados e sobretaxados. Uma vez no Egito, sempre que for possível barganhe o preço, tendo em mente que o valor cobrado já está superfaturado em torno 100%. Uma dica é mostrar um certo interesse sobre algo em oferta e após a determinação do preço, desinteresse. Esse tipo de atitude pode reduzir consideravelmente o preço de alguma coisa, dependendo da sua capacidade de dissimulação. A maioria dos táxis, um dos principais meios de transporte para turistas, não contam com taxímetros e são carros antigos, muitas vezes decrépitos. Nesses casos, negocie sempre o preço antes de embarcar. Como a oferta é enorme, determine o preço que você quer pagar e espere até encontrar um taxista disposto a fazer a corrida. Se possível, tenha em mãos o valor exato da corrida para evitar inconvenientes com troco. Alguns taxistas falam inglês, mas se não der para arranjar um, escreva num pedaço de papel o destino e um valor para a corrida. Isso reduz a barreira do idioma.

Viajando por conta própria pelo Egito não é uma tarefa simples, porém uma garantia de problemas e de aventura. Viagens de trem para o interior sem o auxílio de agências pode ser uma tarefa relativamente difícil, mas não impossível. Teoricamente, bilhetes de trem devem ser comprados com sete a quinze dias de antecedência, porém não existe (até o dia da publicação desta matéria) disponibilidade de vendas on-line. O que acontece na prática é que vendedores nos guichês reservam tíquetes para vender no mercado negro. Neste caso, uma das alternativas é embarcar no trem sem bilhete. Comprando dentro do trem há uma multa, que não altera significativamente o valor da passagem, mas que pode gerar o inconveniente de não haver assentos disponíveis. É possível que você tenha de ficar em pé por algumas horas, pois o trem tende a esvaziar conforme as paradas nas estações, onde desembarcam uma considerável quantidade de passageiros.

Leia também:
Egito: uma breve introdução
O Nilo, os núbios e o Egito

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