quarta-feira, 13 de maio de 2009

A Amazônia é nossa


As opções de barcos na rota da tríplice fronteira até Manaus são poucas. Mas não tinhamos do que reclamar, nosso barco era bem cuidado e as refeições servidas sempre frescas e gostosas.


Não sei se isso acontece com todos que viajam pelo mundo, mas eu voltei amando ainda mais o nosso Brasil. Não ignoro nossos profundos problemas sociais, mas me empolgo ao sonhar com o futuro da nossa nação. Acredito que nosso país um dia chega lá, não graças aos nossos senado federal e câmara de deputados vazios, mas ao esforço do nosso povo. Otimista demais? Que me condene aquele que viaja pelo Brasil e não se maravilha com a beleza da nossa terra e a simpatia do nosso povo.

Acho que esse sentimento ficou ainda mais forte depois de viajar por três dias pelo Rio Amazonas dentro de um barco até Manaus. Um caminho que começou na tríplice fronteira com o Peru e a Colômbia. Uma experiência pessoal marcante, mesmo depois de viajar por mais de um ano e ter conhecido o Rio Nilo, que sempre competiu com o Rio Amazonas na posição de maior do mundo. A discussão a respeito de quem é o rei dos rios continua mesmo depois de imagens de satélite feitas dos dois – a dúvida é sobre onde realmente nasce cada um deles. Depois de conhecer ambos, o que posso dizer é que se o Rio Nilo é o mais longo, em quantidade de água não parece chegar nem perto da imensidão do Rio Amazonas. Durante alguns momentos da viagem de barco no Brasil era impossível ver uma das margens do rio, tamanha a distância entre uma e outra. Além disso, para uma pessoa acostumada com as grandes cidades, testemunhar o dia-a-dia na beira do Amazonas é conhecer um outro modo de encarar a vida.


Somente com a ajuda de locais era possível ver animais. A enchente que tomou o Rio Amazonas e suas margens espantou a vida selvagem para locais secos e afastados.


Os contrastes
A beleza do rio Amazonas é impressionante, mas isso não deixa a vida do ribeirinho (morador do interior do Amazonas) mais fácil. As distâncias são imensas e o preço das passagens de barco, único meio de transporte disponível, são altas para uma população que praticamente vive da agricultura de subsistência. Além disso, mesmo que um morador de uma cidade ribeirinha tenha posses para pagar as passagens, depende totalmente da baixa frequência de barcos que sobem ou descem de Manaus, a capital. Por lá tudo é transportado via fluvial: comida, carros, tratores, suprimentos em geral e até os estudantes das comunidades. Aliás, um espetáculo a parte é ver a agilidade das crianças com seus barquinhos a remo cortando a imensidão dessas águas. Fiquei imaginando que diferente da primeira Caloi, aqui as crianças sonham com seu primeiro barquinho.

O tráfico de drogas também é uma realidade dura da região. A tríplice fronteira, pouco vigiada pelos paises vizinhos e difícil de controlar por sua extensão, se torna um porta escancarada para a travessia de drogas. Não foi a toa que nosso barco foi parado duas vezes, primeiro pela lancha da Polícia Federal e depois pela Polícia Civil. Todos passageiros foram obrigados a abrir sua bagagem e os tripulantes mostrarem cada parte do barco, esse processo todo levou cerca de 3 horas cada. Reclamar do quê? Pelo menos soube que nossa polícia está trabalhando.


Para se conhecer os igapós é necessário utilizar pequenas embarcações como essa da foto remada pelo nosso guia.


Outro mundo
Mesmo diante de todas essas dificuldades, o povo amazonense é amável e gosta de contar as histórias locais. Nos três dias dentro do barco, em poucos momentos me senti entediada, já que me envolvi em muitas conversas com todo tipo de membro da sociedade. Como um professor, uma dona de casa, um comerciante, uma cozinheira, um estudante, vários cearenses (já que eles formigam na região amazônica desde o Ciclo da Borracha) e até mesmo o dono do barco. Fiz várias perguntas a respeito das frutas locais, tão exóticas para maioria de nós brasileiros, e também sobre como é viver a mercê das águas. Histórias de força e sobrevivência. A cada refeição servida, inclusa no valor do bilhete, descobria nomes e gostos diferentes. O menu não negou a essência do Brasil, simples, fresco e gostoso. E o açaí na tigela todos os cafés da manhã, delícia pura.

Confesso que não vimos muitos animais durante a viagem. Afinal, estávamos apenas usando um transporte público, como um ônibus ou trem na maioria das cidades, e não um pacote turístico que percorre os pequenos igarapés. Além disso, a região há muitos anos não sofria com uma enchente tão forte e os animais estavam refugiados nas poucas áreas secas. Na verdade, o maior fascínio de se viajar pelo Rio Amazonas, nesse percurso também chamado de Rio Solimões, é simplesmente deslizar sobre suas águas barrentas e curtir cada nascer e pôr-do-sol. Um espetáculo silencioso, somente interrompido pelo barulho do motor do barco. E finalizado com o melhor banho de rio que experimentei na minha vida, nas águas escuras e agradáveis do Rio Negro. A Amazônia é nossa!

terça-feira, 12 de maio de 2009

Maldição Inca

Há certos lugares no mundo que exercem um fascínio sobre o viajante, embora tenhamos o sonho impossível de conhecer cada parte desse planeta. No meu caso, Machu Picchu estava no topo da lista. Lembro que quando estávamos voltando à América do Sul, depois de percorrer a Europa, Oriente Médio e Ásia, Guther e eu concordávamos de que se tivéssemos que escolher somente um país latino-americano, seria o Perú. Não havia nenhuma dúvida. Hoje, depois de concretizar o meu sonho, acredito que boa parte do fascínio é resultado de uma influência direta da forte propaganda turística peruana. É uma pena, mas em uma viagem sempre corremos o risco de nos frustrarmos com certos sonhos de consumo. Imagine então depois de conhecermos mais de 30 países. Talvez a culpa disso tudo também seja a grande expectativa que alimentamos. Afinal, investimos tempo e dinheiro em uma viagem e esperamos que o investimento seja digno. Quem nunca foi enganado por uma agência de turismo ou, até mesmo, pela própria imaginação?

A primeira etapa
Minha experiência em Machu Picchu começou na cidade de Cusco, que fica a 3.400 metros do nível do mar. A altitude não nos afetou muito porque já percorríamos grandes alturas desde a fronteira da Argentina com o Chile e depois na Bolívia. No entanto, quem chega de avião de países como o Brasil, principalmente de cidades que estão bem próximas da costa, sofre com o Sorojche, "o mal das alturas", nome dado pelos peruanos ao mal estar que atinge muitos turistas. Os sintomas mais comuns são tontura, náusea e dificuldade de respirar. Acostumados com as grandes altitudes e a mastigar folhas de coca, não tivemos que ficar alguns dias nos aclimatizando, e logo pesquisamos as possibilidades de como chegar a Machu Picchu.


Peruanas com roupas típicas e até acompanhadas de lhamas se oferecem para uma foto em Cusco. Mas não se iluda, a simpatia é remunerada

Diferentemente do que muitas agências dão a entender aos turistas que pesquisam a respeito, não existe apenas um caminho para o local sagrado dos Incas. A verdade é que o governo peruano batizou uma das rotas de oficial e passou a controlar a entrada de turistas por esse caminho. Por dia somente 500 pessoas são autorizadas a entrar, incluindo guias, cozinheiros e carregadores. Por essa razão, turistas fazem reserva da entrada pelo site do governo com muitos meses de antecedência. Não foi o nosso caso. Optamos por uma das várias rotas alternativas até Machu Picchu, que inclui um dia de descida de bicicleta (down hill) e três de caminhada, além de acomodação em pequenas pousadas ao logo do caminho. E o mais importante, não é necessário nenhuma reserva. Essa rota, ou Caminho Inca, é chamada pelas agências de turismo de Jungle Trip, ou em bom português, Caminho da Selva. Mas para quem tem pouco tempo e energia física, há até a possibilidade de conhecer Machu Picchu em um dia, saindo de Cusco de ônibus até a estação de trem que vai a cidade de Águas Calientes e de lá pegar um ônibus que sobe ao parque arqueológico. Confortável e rápido.

Sedentos por aventura, optamos pela Jungle Trip e começamos nossa jornada pela manhã dentro de uma van por três horas. Depois do café da manhã, subimos nas bicicletas e começamos a descida que levou cerca de quatro horas. Chegamos a tarde e conhecemos nosso guia, a primeira frustração da aventura. Me dei conta de como um guia com talento e bem treinado faz falta em uma viagem como essa. Ela tem outro gosto quando sentimos que podemos confiar nas informações, principalmente quando passadas com empolgação. Fatores em falta no nosso guia peruano.

Mais caminhada
No dia seguinte começamos a primeira etapa de caminhadas, de cerca de 7 horas diárias, subindo e descendo. Passei a entender porquê uma jornada como essa se torna algo tão pessoal e reflexiva. A falta de ar, causada principalmente pela grande altitude e intensificado pelas íngremes subidas, impede que você converse muito com os companheiros de equipe. Somente nas paradas para descansar, depois de recobrado o fôlego, é que você se permite um luxo desses. Como em um deserto sem água, no Perú parece que é o ar que está em falta. Aliás, água foi algo que não faltou. Fomos presenteados com um belo parque de águas termais no fim do dia, construído em um vale e cercado por belas montanhas na pequena cidade de Santa Tereza.
Quebrados, mas empolgados, calculamos que o segundo dia seria fácil, já que é realizado quase que somente em áreas planas. O que não contávamos era com os trilhos de trem. A questão é que cada trilho é instalado em distâncias diferentes um do outro. Ou seja, enquanto que no dia anterior você sofria com a subida, mas pelo menos tinha a recompensa da paisagem, sobre os trilhos são 7 horas olhando para baixo e calculando onde pisar. O lado positivo disso tudo é que o Caminho Inca possibilita aos peregrinos conhecer a alegria que vem depois de um grande esforço físico. Perceber que você venceu aquela montanha ou o percurso ao lado de toda a equipe traz uma satisfação interior. Você diz para si mesmo: venci mais um dia.

Graças a forte propaganda turística, centenas de pessoas visitam Machu Picchu todas os dias. Nem mesmo o tempo ruim impede a chegada dos turistas

Quase lá
Finalmente chegamos a Àguas Calientes, última cidade e ponto de parada antes de Machu Picchu. Águas Calientes fica ao pé da montanha onde a cidade perdida dos incas foi construída e possui um parque de águas quentes, o que explica o nome. O parque deixa a desejar, mas ao menos dá um alívio aos pés esfolados pelos três dias de exercício. É no quarto dia, às 4 horas da manhã, que finalmente chega a última etapa do caminho. Turistas de todas as partes do mundo se encontram na escuridão da cidade para subir as centenas de degraus que levam até Machu Picchu. É nesse momento que passei do desprezo a sentimentos bem mais malignos quanto ao nosso guia. Ele sumiu, escada acima, nos deixando no completo escuro. O nosso salvador foi um colega de equipe que trouxe uma lanterna e ajudou cerca de 6 pessoas a visualizar os degraus a beira de um grande barranco. Nunca gostei tanto de um norte-americano, quase cantei “Amazing Grace”.

Depois de mais de uma hora subindo degraus, metade deles iluminados pelos primeiros raios da manhã, chegamos ao portão de entrada de Machu Picchu. Só sabia que era a cidade perdida dos incas pela placa de entrada, porque uma névoa densa cobria toda a montanha. A experiência se tornou ainda mais difícil porque o calor do corpo começava a baixar, junto com a chuva e o vento gelado da montanha que batiam sorrateiros nos centenas de turistas mal agasalhados. Por quase quatro frias horas esperamos a névoa se dissipar. E nada do sol. Molhados e frustrados, voltamos a entrada do parque arqueológico para comer e tomar algo quente. Neste momento, os ônibus de excursão de um dia começavam a chegar. Que inveja senti daqueles turistas bem agasalhados e secos que chegavam justamente quando o sol mostrava sua cara. A minha pergunta era: por que mesmo levantamos as 4 horas da manhã? Ah sim, Machu Picchu estava nos esperando. Até tinha me esquecido.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Mais um minuto de fama

Nossa viagem ainda está rendendo na mídia. Desta vez foi no Jornal NH, publicação distribuída na região do Vale do Paranhana no Rio Grande do Sul. A reportagem publicada no dia 8 de maio ganhou uma página e algumas fotos para os leitores terem um gostinho da viagem. Além de um destaque para o blog. Esperamos que o artigo se torne um incentivo para que mais brasileiros viagem com mochila nas costas, ou do jeito que der na cabeça. Para nós dois é mais um motivo para continuar com o projeto de um livro sobre "O mundo em 365 dias".

terça-feira, 5 de maio de 2009

Viajando na América

Olha a concorrência crescendo.. O blog do Wladimir Pinheiros, vulgo Wlad, tá arrebentando! Muito ilustrado e divertido! Recomendo: http://www.portalibahia.com.br/360/america/.