quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Santa Evita

A Argentina vive de ídolos. Afirmam que José de San Martin, general e libertador da Argentina e Chile das mãos espanholas, é um santo (com direito a maosoléu na Igreja Metropolitana de Buenos Aires). Já o jogador e agora técnico do time nacional, Diego Armando Maradona, é deus e Evita Perón, claro, uma santa. As regras que fazem de um cidadão normal um ser fenomenal para os argentinos pode ser algo impossível de entender. Até porque Maradona possui, além de sua genialidade para o futebol, poucas qualidades divinas. Já Evita é uma das várias e grandes polêmicas locais. Para alguns, uma populista infernal e para outros uma protetora das crianças, velhos, mulheres e descamisados.

Diante de tanta polêmica, a própria Evita escreveu uma autobiografia entitulada "A razão de minha vida", publicada em 1951 e que em quatro dias vendeu 145 mil exemplares. O livro conta como Eva Duarte (seu nome original), filha ilegítima de um político, saiu das camadas mais humildes da sociedade argentina e aos 15 anos mudou-se com a mãe para Buenos Aires. Foi na capital que Evita começou a carreira como atriz de rádio e cinema. A cidade também foi cenário para o encontro com o militar Juan Domingo Perón e, algum tempo depois, da famosa revolta popular de 17 de outubro de 1945, quando Perón estava preso e foi libertado das grades através da pressão popular. Nesse momento, a estrela de Eva começou a brilhar na Praça de Maio e na cena que marcou o mundo inteiro discursando para milhares de pessoas da sacada da Casa Rosada. Imagem repetida diversas vezes pelo casal e copiada por muitos que seguem os passos do populismo. Faltava pouco para que Eva ganhasse o apelido de Evita pelas ruas e se tornasse a primeira dama a participar das fotos oficiais de um presidente da Argentina.

Seu poder político
Inspirado na autobiografia de Evita, o museu batizado com seu nome na capital portenha foi planejado para ajudar no intrincado processo de decifrar a personalidade de Evita Perón e do Movimento Peronista. A mostra começa com uma das inúmeras frases tipicamente populistas da "santa" registrada em seu livro: "Alcancei na vida tudo o que uma mulher pode desejar, sou amada pelos pobres e odiada pelas oligarquias". Já a publicação foi leitura obrigatória nas escolas da época, muitas delas contruídas pelo presidente Perón e que foram batizadas com o nome do casal, uma prova de que há muito tempo na Argentina o tamanho do ego é um elemento fundamental para o sucesso. Juntos, além de dezenas de escolas, construíram asilos, projetos de turismo infantil e casas de profissionalização. Entretanto, a maior ênfase do trabalho de Evita era com as mulheres. A primeira dama da Argentina, junto com o marido eleito em 1946, foi a grande defensora de uma lei que permitiu a elas o direito de voto. A conquista, aprovada pelo Congresso em 1947, foi a consagração de Eva Perón. Já a criação do Partido Peronista Feminino foi a segunda parte de um plano para as eleições seguintes. A estratégia era de que houvesse o maior número possível de mulheres com poder de decidir a política em 1951, garantindo assim a permanência do marido no poder. Com o apoio das argentinas, Perón foi reeleito com mais de um milhão de votos de diferença do segundo colocado. A ganância política de Evita só não foi mais longe porque a primeira dama morreu no ano seguinte, com apenas 33 anos de idade, vítima de um câncer fulminante no útero.

O mistério que durou 14 anos
Como toda santa que se preze, sua história merecia mais ingredientes angustiantes e melodramáticos. O corpo de Evita atravessou as ruas de Buenos Aires diante das lágrimas de dois milhões de portenhos que ficaram em luto por um mês. No entanto, o que aconteceu com o corpo embalsamado da primeira-dama permaneceu um mistério por 14 anos. Os planos seriam de colocar o corpo da diva no lugar de um monumento que estava quase concluído na capital. No entanto, quando a Revolução Libertadora retirou o enfraquecido presidente Perón do poder em 1955, o cadáver de Evita foi sequestrado e desapareceu. Muitas teorias foram criadas a partir do sumiço. O que se descobriu muitos anos depois foi que Evita Perón havia sido enterrada na Itália sob o falso nome de Maria Maggi de Magistris e somente em 1976 foi devolvida ao povo argentino. Hoje, Evita Perón descansa em paz no cemitério da Recoleta, numa tumba que não faz jus a sua grandiloquência, mas sempre com flores, junto com outros membros da família Duarte. Nada restou do luxo que ela apresentava em seus trajes e de seus discursos marcantes na Casa Rosada. Na política e na sociedade tampouco. Os ídolos da Argentina parecem ter o fim de qualquer cidadão comum: do pó voltam ao pó.

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domingo, 22 de fevereiro de 2009

Uruguai: um pequeno grande país

Esquecido no cenário internacional graças ao gigantismo de seus vizinhos Brasil e Argentina, a antiga Província Cisplatina leva brasileiros e argentinos "na flauta", com uma diplomacia impecável e histórica. Território brasileiro de 1822 a 1828, quando conquistou sua independência do então império, ainda hoje os uruguaios mantêm uma relação extremamente amistosa com a gente. Sempre cordiais, não é nada raro encontrar uruguaios falando excelente português, muito embora a grande maioria nos entenda com muita facilidade. Apesar de se orgulharem da maior conquista futebolística de sua história nos derrotando na Copa de 1950, esses diplomáticos gaúchos nunca são levianos ou jocosos ao relembrar esse feito. Também não perdem uma oportunidade sequer de se desmancharem em elogios às brasileiras! Se tivesse apenas uma palavra para definir os uruguaios, sem dúvida os descreveria como "bon vivants": sabem desfrutar os prazeres de uma vida sem grandes preocupações ou ambições, o que sem dúvida faz de uma visita ao seu país uma experiência muito agradável. Nesta oportunidade visitamos a bela e pequena capital Montevidéu e a histórica Colônia do Sacramento, deixando para trás Punta del Este, talvez o destino turístico mais freqüente dos brasileiros. Certamente não faltarão oportunidades de retornar!

Montevidéu é uma cidade muito compacta, agradável e segura. Um fim de semana longo é mais do que suficiente para cobrir as principais atrações turísticas ou desfrutar a culinária local: o tradicional "asado", uma saborosa variedade do nosso churrasco. Felizmente, boa carne de vaca e bom vinho são artigos abundantes por lá. Um paraíso para os carnívoros! Logo no dia em que chegamos de uma viagem de cerca de 12 horas Porto Alegre, só tivemos tempo para nos acomodar e logo saímos para aproveitar um lindo dia de sol e céu azul. É muito fácil se guiar pela cidade, então decidimos pegar um ônibus. No mesma parada, dois sujeitos carregando sanfona e violão resolveram tomar o mesmo ônibus lotado! Passaram por nós se expremendo entre as pessoas e, para nossa surpresa, começaram a tocar e a cantar bem no meio do ônibus, em frente a uma das portas de saída. Muitos civilizados, os uruguaios sequer se incomodaram e se viravam sem cerimônia para saltar do lotação quando chegavam aos seus destinos! A nossa adrelina àquela altura estava tão à flor-da-pele que começamos a rir, nos desfazendo do disfarce de habitantes locais. E a música era boa, divertida, pra cima! Claro que tivemos que dar uma contribuição aos artistas.

Saltamos praticamente no último ponto, já na cidade velha, e seguimos para o Mercado do Porto para comer uma bela picanha com salada -- como sempre digo, arroz a gente come em casa! Alimentados e um pouco desnorteados pelo vinho, saímos andando a esmo pelo pitoresco e fotogênico centro de Montevidéu. Sem dúvidas, o Uruguai pode ser um bom ponto de partida para uma viagem pela América do Sul, uma interessante introdução, ao lado da Argentina, à América hispânica. Na capital uruguaia ficamos hospedados com amigos que fizemos em Lisboa. Conhecer gente local sempre potencializa uma viagem, embora não signifique necessariamente economia, já que a gente acaba sempre saindo para comer, beber e socializar. No domingo, com o sol à pino, decidimos visitar uma das deliciosa, mas geladas, praias uruguais. Vários ônibus saem da capital para as praias mais próximas -- uma espécie de balneário desfrurado pelos uruguaios a cerca de 60 quilômetros de Montevidéu.

Seguimos, então, para a bela e pequena cidade histórica de Colônia do Sacramento, a cerca de três horas da capital, onde também é possível tomar um ferry para Buenos Aires. Foco da resistência portuguesa na briga por esse pedaço de chão do novo mundo, a fotogênica cidade preserva muito da história e da arquitetura dessa época e pode ser muito bem explorada em um ou dois dias. Por lá é fundamental experimentar a parrillada, o prato típico da região: uma mistura de carne de vaca, frango, linguiça e morcilha. Evidentemente, regado a vinho tinto local (bom e barato)! Quem, como nós, opta por visitar o Uruguai antes de seguir para a Argentina visitar Colônia é uma boa pedida. A cidade parece seguir num ritmo muito abaixo do resto do planeta, o que certamente não favoreceu os jesuítas em sua resistência contra a coroa espanhola mas que ajudou a preservar um dos sítios históricos dessa região. Equipada com bons albergues e hotéis, Colônia do Sacramento proporciona aos turistas uma viagem num tempo nem tão longínquo e me leva a refletir: já que barramos a gana separatista de Bento Gonçalves, porque não estendemos esse esforço para um pouco mais perto do Rio da Prata? Assim, hoje o Uruguai seria o 28° estado brasileiro e já seríamos hexacampeões do mundo.

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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Somos todos gaúchos


A rica culinária gaúcha do Uruguai se concentra no Mercado do Porto. A Parrillada é o prato mais tradional e a preferência dos carnívoros.


Muita carne, chimarrão e amor pelas tradições. Me senti em casa nos cinco dias que passamos no Uruguai. A capital do país, Montevidéu, parece um pedacinho de Porto Alegre. A essência do gaúcho paira sobre os uruguaios. Assim como o cheiro de carne dos famosos assados, como no belo Mercado do Porto. Os uruguaios possuem duas paixões que são facilmente encontradas nas calles: o mate e o flerte.

No caso do mate, uruguaios carregam a térmica e a cuia debaixo do braço por todo lugar que andam. Até mesmo no ambiente de trabalho. Uma amiga uruguaia que trabalha em uma empresa norte-americana contou que há uma regra que proíbe que seus funcionários comam ou bebam qualquer coisa durante o horário de trabalho. A regra, é óbvio, não funcionou no Uruguai. Já o flerte é o esporte nacional no país. Basta sentar por alguns minutos nos diversos restaurantes ao ar livre em Montevidéu para perceber. Eles olham todas, todas mesmo. Basta ser mulher para ser admirada pela frente, e é claro, pelos fundos. Pronto, algo mais que temos em comum com os uruguaios: a preferência nacional por aqui também é o bumbum.

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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Nossa viagem na TV

Jornalistas que somos, sempre fizemos as perguntas. Nesses últimos dias, no entanto, tivemos que nos acostumar com uma nova fase: nos tornamos entrevistados. Foi assim que a nossa viagem pelo mundo em 365 dias virou notícia no programa Tele Domingo, transmitido pela RBS, a Rede Globo do Rio Grande do Sul. A entrevista foi gravada em Três Coroas, 100 quilômetros de Porto Alegre, cidade onde nasci e por onde paramos por alguns dias para descansar antes de começarmos a nova jornada pela América Latina. Para quem não pode assistir ao vivo no último domingo (como nós, pois estamos em terras uruguaias), dia 15 de fevereiro, segue o link.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Bagagem light

Chegou a hora de refazer as mochilas. Lavadas até parecem novas. Nossas fiéis escudeiras perderam alguns quilos de poeira e ganharam alguns pontos de agulha. Agora falta definir o que levar em uma viagem de cerca de dois meses pela América Latina. Pelo que conhecemos do clima e da geografia, mesmo viajando nos meses de fevereiro, março e talvez parte de abril, podemos nos deparar com a estação das chuvas na Bolívia e no Peru. Também vamos encontrar aquele calor típico do verão no continente latino, assim como temperaturas mais frias na Cordilheira dos Andes. E agora, o que colocar na mala em uma viagem com climas tão diversos? Posso afirmar, sem dúvida nenhuma, que bem menos itens e quilos que levamos na primeira fase da viagem. O tempo agora será mais curto e a experiência maior.

Várias pessoas perguntam o que fazemos com as roupas que não precisamos mais. Descartamos, essa é a resposta mais simples. Toda vez que mudávamos de país, fazíamos uma triagem do que ainda era necessário. Dói no coração deixar pra trás aquela bota de couro que você adora e que foi tão útil no frio escocês. Mas nossa coluna é mais importante. Para as mulheres mochileiras, principalmente as vaidosas brasileiras, uma dica: leve pouca coisa e deixe aquelas peças de estimação, elas correm um sério risco de ficarem pelo caminho. Além disso, como em uma viagem tão longa não é possível ficar comprando souvenirs, comprar uma peça de roupa transada em um país é uma forma de carregar a viagem e as lembranças nas costas. Mas não exagere! Você terá muito tempo pela frente para reformular seu guarda-roupa. Agora é hora de encher sua cabeça e sua mala de idéias.

Guias de viagem: você vai precisar de um!


Guias de viagem podem ser extremamente úteis para decidir o que fazer numa cidade, mas não deixe de usar o instinto e o bom senso...


O viajante independente sofre (embora nem todos sejam corinthianos ou botafoguenses!). Mas certamente sofria muito mais no passado, quando não havia guias de viagem a disposição. Sem dúvida, o australiano Lonely Planet é o guia de viagens mais famoso e mais utilizado em todo o mundo por viajantes que gostam de fazer tudo no braço. Tem gente que ama, tem gente que odeia. E tem gente como nós que ama e odeia ao mesmo tempo. Por um lado, o Lonely Planet influenciou toda uma geração de guias de viagem, é muito bem elaborado e prático. Por outro lado, é produzido para o público-alvo anglófono -- como a grande maioria dos demais guias -- e é a razão de um fenômeno que chamos de "Lonely Planet inflation". Traduzindo: todos os lugares citados no guia acabam inflacionados por conta da multidão de viajantes independentes que atrai. Há outros guias na praça para quem lê em inglês como Thomas Cook, Rough Guides ou o excelente EyeWitness. Infelizmente, no entanto, só descobrimos agora no trecho final de nossa viagem o guia O Viajante. Como eles mesmos gostam de enfatizar -- e com muita propriedade -- feito por brasileiros para brasileiros. Nós adotamos a edição para a América do Sul para essa nova etapa. E, de fato, é uma sensação muito boa ler um guia que não apenas fala a nossa língua como também entende o jeito brasileiro de ser, a maneira como lidamos com dinheiro e aspectos da nossa cultura alheios a outros guias. Há também uma edição que cobre a Europa, que ainda não vi mas certamente deve ser muito interessante. Pena que O Viajante é publicado de forma independente enquanto grandes editoras, pelo que parece, preferem investir em traduções.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Chegou a vez da América Latina

Descansados, mimados e bem alimentados, agora estamos prontos para carregar nossa mochila pela América Latina. Completamos 10 meses de viagem quando saímos de Hong Kong rumo a Porto Alegre. Mas, afinal, o nome do nosso projeto é "O mundo em 365 dias" e não podemos deixar por menos. Além do mais, seria uma vergonha para dois mochileiros do Brasil não conhecerem o nosso continente. Temos muitas coisas em comum com os 21 países da América Latina. Até mesmo com a Argentina, embora não concordemos em quem é o melhor jogador de futebol da história (Pelé ou Maradona?), somos todos loucos por futebol. Entretanto, a verdade é que o Brasil criou uma cultura própria. Há quem afirme que isso aconteceu por causa da diferença da língua ou até pelo tamanho do nosso país, o que acabou criando variadas manifestações culturais em cada Estado. Também queremos entender por que compreendemos tão bem o espanhol e eles sentem tanta dificuldade quando falamos português. Justamente para responder perguntas como essas, e muitas outras que surgirem, que vamos começar mais uma etapa da nossa viagem pelo mundo. Só que agora pela vizinhança.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Novidade 2.0: Álbum de fotos no ar

Olha... foi um parto, mas agora -- aos poucos, ainda! -- estamos publicando diversas seleções de fotos dos lugares por onde passamos. Uma tarefa nada fácil, já que temos uma coleção de mais de 25.000 imagens. A princípio, estamos fazendo coletâneas de fotos pessoais (i. e. fotos em que a gente dá as caras :) por países. Na seqüência, devemos fazer fotos apenas dos lugares. E, em seguida, seleções por temas. Optamos por usar o serviço do Flickr (Pro) para hospedar as fotos e estou muito satisfeito com o desempenho. Se você estiver procurando algo similar, recomendo o serviço do Yahoo, que é gratuito. Entretanto, por uma bagatela de US$ 25/ano é possível fazer um upgrade na conta com uma série de benefícios extras, a começar por espaço ilimitado para armazenagem de fotos. Para acessar a nossa página inicial no Flickr, clique aqui!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Novidade: papéis de parede

Eu sempre gosto de mudar o papel de parede do meu computador... pra fugir um pouco da monotonia de ver a mesma imagem diariamente. E sempre uso as nossas fotos para personalizar a nossa área de trabalho. Como já tenho alguns modelos acumulados, resolvi compartilhar essas imagens com o pessoal que acompanha o blog. Portanto, clique aqui para conferir as imagens disponíveis e baixar a sua preferida! Todas as imagens têm um tamanho padrão, mas espero que sirva no seu desktop. Grande abraço!